terça-feira, janeiro 05, 2010

Salve Simpatia


Na volta do trabalho peguei um ônibus mais confortável, mais caro que os comuns e com ar condicionado ( apelidado de frescão para quem não é carioca ) . Sentei na única poltrona vaga , ao lado de um sujeito gordinho e engravatado , que me cumprimentou e falou do calor e do trânsito que encontrava-se parado na Avenida Rio Branco até a altura do Aterro do Flamengo. Respondi educadamente e tirei um livro da bolsa. Antes de abrir o meu livro o estranho perguntou se eu gostava de Clarice Lispector respondi que sim e ele então falou do lançamento da biografia da escritora , pelo autor americano residente na Holanda Bejamim Moser , intitulada de Clarice. O que me fez prestar atenção no estranho que me informando disso tudo , confidenciou que não lia a Autora desde o tempo de faculdade e o que é pior andava lendo muito pouco devido o excesso de trabalho , que lhe tomava a maior parte do seu tempo, me disse ser sócio de uma firma de engenharia. E o que lhe restava aproveitava para curtir sua mulher e dois filhos pequenos.

O trânsito continuava andando lento foi o tempo que eu e o estranho conversamos sobre família, ele filhos , entre outros assuntos tão interessantes como Clarice, chegamos até dar gargalhadas juntos. Até que chegou a hora dele descer no ponto, ele agradeceu pela boa conversa e pela minha simpatia , retribui os elogios e me disse seu nome aproveitei e falei o meu . O sujeito então se despediu com dois beijinhos no rosto. Neste mesmo instante olhei ao redor e vi que nas cadeiras ao lado duas senhoras se cutucando , olhando em nossa direção. Um homem mais a frente que não parava de virar para trás enquanto a viagem prosseguia , deu um sorriso malicioso quando viu Alberto , esse era o nome do meu companheiro de viagem e de boa conversa , saltar do ônibus.

De repente , senti que olhares voltavam-se a mim e me fizeram por uns minutos me sentir marginalizada por ter apenas conversada animadamente com um estranho , alguem que provavelmente nunca mais vou ver , embora em nenhum momento tenha sido o motivo do papo fluir . Parei por uns instantes e olhei para cada um daqueles rostos que me discriminavam e pensei : " Do jeito que as coisas estão daqui a pouco vão proibir a conversa em público entre estranhos e provavelmente vão proibir as pessoas serem cordiais e simpáticas uma com as outras. Mas se esse mundo existir algum dia prefeiro já ter partido cantando " Salve Simpatia "

dica : do livro "Clarice " Moser, Benjamin , editora Cosac e Nayfi.

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