quarta-feira, outubro 26, 2011

Santa Clara Guerreira





Na casa de praia de meus pais, música era o aperitivo que não podia faltar no drinque. Lembro que a única coisa que nunca era esquecida era uma caixa cheia de fitas cassete que minha mãe tinha. O repertório, embora variado, as canções de amor e os sambas canção predominavam no ambiente.
Foi assim que conheci Clara Nunes; via as fotos do seus LP, vestida com roupas que remetiam as religiões afro-brasileiras e os cabelos vermelhos, uma imagem marcante para uma criança. E mais ainda quando a ouvia cantar sambas que até hoje eternizam em minha vida como: Morena d’ Angola, Coração Leviano, Bela Cigana, O Mar Serenou.
Além de outro fato, que nunca me fez a esquecer, foi na ocasião do seu falecimento, dito ser um choque anafilático da anestesia tomada para uma cirurgia de varizes. Entrei na cozinha e deparei com minha mãe chorando junto a uma tia, perguntei: “O que houve?” As duas se entreolharam e responderam quase juntas: “Foi a Clara”. Não entendi nada; nos meus onze anos de idade achei quer era uma amiga querida, não descobri que a “Clara” falecida, era sim “Clara Nunes” ou Clara Guerreira”. Posso dizer que, guerreira ou não, nunca esqueço aquela cena, as duas preparando uns drinque e uns petiscos, com certeza molhados pelas lágrimas derramadas.
 E nesse dia mesmo devido a comoção nacional que se abatia pela morte da cantora e ,principalmente, a que se abatia na minha casa , conheci a outra faceta de Clara , aquela que cantava canções de amor como :  Serenata do Adeus, Ah! Quem me dera, Jardins da Solidão , Amor Perfeito e Sem Companhia.


Lembrei dessa história porque na semana passada ganhei de presente de um amigo um CD do compositor Ivor Lancellotti: Em boas e mais companhias. E é dele as composições citadas acima - Amor perfeito e Sem Companhia -, mas que foram eternizadas por Clara.
Embora a mídia não tenha dado o devido valor ou esqueceu o talento do compositor, que é indiscutível. E hoje é para alguns reconhecido como o pai do baterista Domenico Lancellotti e do vocalista Alvinho, do Fino Coletivo. Sem saber dos sucessos das composições dos pais dos moços que continua um fera nas canções românticas e que, com certeza, se ainda estivessem vivas, Elizeth Cardoso, Maysa e principalmente Clara, gravariam novamente suas músicas - o disco é realmente de primeira mão.
 Sempre clara, depois que entrou com seu chocalho amarrado na canela, nunca mais se fez esquecer, seja por onde vier, suas canções, sua dança e seu orixás. Nunca mais será por mim esquecido
Salve Santa Clara Guerreira.

Nem tudo é mentira.
nemtudoementira1@gmail.com
crédito da imagem : João Pinheiro.

Um comentário:

  1. Aprendi na infância com minha mãe, e até hoje amo a voz dessa mulher! Maravilhosa!
    Minha mãe sempre comenta sobre a morte prematura dela, estava em um lindo momento da carreira, mais madura e tudo mais! Andei baixando alguns antigos sucessos para minha mãe, mas os LPs continuam guardados. Adorei recordar, abraços
    Ana Cosenza

    ResponderExcluir